Autotransfusão Intraoperatória (ATIO) e Sua Aplicação na Obstetrícia: O Papel do Perfusionista e os Benefícios para o Paciente

A Autotransfusão Intraoperatória (ATIO) é uma técnica que permite a coleta, processamento e reinfusão do sangue do próprio paciente durante um procedimento cirúrgico. Essa prática é amplamente utilizada para reduzir a dependência de transfusões alogênicas (sangue de doadores), minimizando riscos e promovendo maior segurança em ambientes cirúrgicos de alto risco.

Na obstetrícia, a ATIO tem se mostrado uma solução eficaz para o manejo de hemorragias graves, como em casos de placenta acreta, descolamento prematuro de placenta e outras complicações obstétricas.

 

Placenta acreta

É uma condição grave em que a placenta cresce de forma anormal na parede do útero, podendo invadir camadas mais profundas.

A placenta é a fonte de oxigênio e alimento para o feto, e normalmente se separa da parede uterina após o nascimento. 

Essa condição pode causar complicações no parto, como dificuldade para a retirada da placenta e risco de hemorragia. Pode causar perda de sangue grave após o parto, e pode exigir transfusão de sangue e histerectomia (remoção do útero), por isso, é essencial o diagnóstico precoce, e um acompanhamento especializado para garantir a saúde e segurança para a mãe e o bebê.

A placenta acreta é geralmente assintomática, mas quando há sintomas, pode ser sinal de que a placenta invadiu órgãos adjacentes ao útero.

 

O Papel do Perfusionista na ATIO

O perfusionista desempenha um papel importante na implementação segura e eficiente da ATIO. Este profissional altamente treinado é responsável por operar o equipamento de recuperação de sangue, monitorar parâmetros de qualidade e volume do sangue recuperado e garantir que o processo seja conduzido de acordo com os protocolos estabelecidos.

Em cirurgias obstétricas, a presença do perfusionista como parte da equipe multidisciplinar é indispensável para assegurar que a técnica seja realizada de forma eficaz, reduzindo riscos e otimizando os resultados para a mãe e o bebê.

“O trabalho da equipe multidisciplinar é fundamental para o sucesso desses casos tão complexos: Obstetras, anestesistas, cirurgião vascular, perfusionistas, neonatologista além de urologista e demais membros do hospital” – comenta Dr. Jeff Chandler Oliveira, Biomédico Perfusionista de Goiânia.

                 

Máquinas de Autotransfusão Intraoperatória – Cell Saver

 

Como funciona a ATIO?

A técnica chamada de Cell Saver durante o procedimento, permite que o sangue perdido no campo cirúrgico seja aspirado, lavado e reinfundido no paciente, podendo recuperar em até 90% das hemácias perdidas durante uma cirurgia.

Esquema ilustrativo da máquina de Autotransfusão em processo

 

Aplicações na Obstetrícia

Na obstetrícia, a ATIO pode ser aplicada em emergências, como hemorragias maciças durante cesáreas ou histerectomias obstétricas. Em casos de placenta acreta, por exemplo, onde o sangramento é intenso e o risco de transfusão alogênica é elevado, a ATIO se apresenta como uma opção segura e eficaz para preservar o volume sanguíneo do paciente.

 

Vantagens da ATIO para o Paciente

– Redução do Risco de Reações Imunológicas: O uso do próprio sangue elimina o risco de reações transfusionais.

– Menor Risco de Transmissão de Doenças Infecciosas: A eliminação da necessidade de sangue de doadores minimiza o risco de contaminação por patógenos.

– Preservação de Estoques de Sangue: Reduz a demanda por sangue doado, ajudando a preservar recursos em bancos de sangue.

– Rápida Disponibilidade: O sangue processado está imediatamente disponível para reinfusão, agilizando a resposta em emergências.

– Melhor Controle de Qualidade: O sangue coletado é filtrado e lavado, removendo impurezas e coágulos.

– Redução de Complicações Associadas a Transfusões Alogênicas: Menor incidência de reações adversas.

– Melhor Recuperação Hemodinâmica: O uso do próprio sangue favorece uma melhor adaptação ao organismo.

– Custo-efetividade: Reduz os custos associados à compra e manuseio de sangue doado.

– Adequação a Pacientes com Restrições Religiosas: Pacientes que recusam transfusões alogênicas por motivos religiosos podem se beneficiar da técnica.

– Redução de Complicações Cirúrgicas: A disponibilidade de sangue próprio em tempo real contribui para maior segurança no manejo intraoperatório.

 

Conclusão

A Autotransfusão Intraoperatória representa um avanço significativo na medicina perioperatória, especialmente em cenários desafiadores como a obstetrícia. A presença de um perfusionista qualificado na equipe cirúrgica é fundamental para garantir a segurança e a eficácia deste procedimento, oferecendo múltiplos benefícios para o paciente e contribuindo para melhores desfechos cirúrgicos.

 

Referências:

Dr. Jeffchander / Biomédico Perfusionista, Conselheiro do Conselho Federal de Biomedicina, ECMO Especialista e CEO da Faculdade Asgard e Ceacecmo – www.ceacteam.com.br

Mayo Clinic – https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/placenta-accreta