Autotransfusão Intraoperatória (ATIO) e Sua Aplicação na Obstetrícia

Autotransfusão Intraoperatória (ATIO) e Sua Aplicação na Obstetrícia: O Papel do Perfusionista e os Benefícios para o Paciente

A Autotransfusão Intraoperatória (ATIO) é uma técnica que permite a coleta, processamento e reinfusão do sangue do próprio paciente durante um procedimento cirúrgico. Essa prática é amplamente utilizada para reduzir a dependência de transfusões alogênicas (sangue de doadores), minimizando riscos e promovendo maior segurança em ambientes cirúrgicos de alto risco.

Na obstetrícia, a ATIO tem se mostrado uma solução eficaz para o manejo de hemorragias graves, como em casos de placenta acreta, descolamento prematuro de placenta e outras complicações obstétricas.

 

Placenta acreta

É uma condição grave em que a placenta cresce de forma anormal na parede do útero, podendo invadir camadas mais profundas.

A placenta é a fonte de oxigênio e alimento para o feto, e normalmente se separa da parede uterina após o nascimento. 

Essa condição pode causar complicações no parto, como dificuldade para a retirada da placenta e risco de hemorragia. Pode causar perda de sangue grave após o parto, e pode exigir transfusão de sangue e histerectomia (remoção do útero), por isso, é essencial o diagnóstico precoce, e um acompanhamento especializado para garantir a saúde e segurança para a mãe e o bebê.

A placenta acreta é geralmente assintomática, mas quando há sintomas, pode ser sinal de que a placenta invadiu órgãos adjacentes ao útero.

 

O Papel do Perfusionista na ATIO

O perfusionista desempenha um papel importante na implementação segura e eficiente da ATIO. Este profissional altamente treinado é responsável por operar o equipamento de recuperação de sangue, monitorar parâmetros de qualidade e volume do sangue recuperado e garantir que o processo seja conduzido de acordo com os protocolos estabelecidos.

Em cirurgias obstétricas, a presença do perfusionista como parte da equipe multidisciplinar é indispensável para assegurar que a técnica seja realizada de forma eficaz, reduzindo riscos e otimizando os resultados para a mãe e o bebê.

“O trabalho da equipe multidisciplinar é fundamental para o sucesso desses casos tão complexos: Obstetras, anestesistas, cirurgião vascular, perfusionistas, neonatologista além de urologista e demais membros do hospital” – comenta Dr. Jeff Chandler Oliveira, Biomédico Perfusionista de Goiânia.

                 

Máquinas de Autotransfusão Intraoperatória – Cell Saver

 

Como funciona a ATIO?

A técnica chamada de Cell Saver durante o procedimento, permite que o sangue perdido no campo cirúrgico seja aspirado, lavado e reinfundido no paciente, podendo recuperar em até 90% das hemácias perdidas durante uma cirurgia.

Esquema ilustrativo da máquina de Autotransfusão em processo

 

Aplicações na Obstetrícia

Na obstetrícia, a ATIO pode ser aplicada em emergências, como hemorragias maciças durante cesáreas ou histerectomias obstétricas. Em casos de placenta acreta, por exemplo, onde o sangramento é intenso e o risco de transfusão alogênica é elevado, a ATIO se apresenta como uma opção segura e eficaz para preservar o volume sanguíneo do paciente.

 

Vantagens da ATIO para o Paciente

– Redução do Risco de Reações Imunológicas: O uso do próprio sangue elimina o risco de reações transfusionais.

– Menor Risco de Transmissão de Doenças Infecciosas: A eliminação da necessidade de sangue de doadores minimiza o risco de contaminação por patógenos.

– Preservação de Estoques de Sangue: Reduz a demanda por sangue doado, ajudando a preservar recursos em bancos de sangue.

– Rápida Disponibilidade: O sangue processado está imediatamente disponível para reinfusão, agilizando a resposta em emergências.

– Melhor Controle de Qualidade: O sangue coletado é filtrado e lavado, removendo impurezas e coágulos.

– Redução de Complicações Associadas a Transfusões Alogênicas: Menor incidência de reações adversas.

– Melhor Recuperação Hemodinâmica: O uso do próprio sangue favorece uma melhor adaptação ao organismo.

– Custo-efetividade: Reduz os custos associados à compra e manuseio de sangue doado.

– Adequação a Pacientes com Restrições Religiosas: Pacientes que recusam transfusões alogênicas por motivos religiosos podem se beneficiar da técnica.

– Redução de Complicações Cirúrgicas: A disponibilidade de sangue próprio em tempo real contribui para maior segurança no manejo intraoperatório.

 

Conclusão

A Autotransfusão Intraoperatória representa um avanço significativo na medicina perioperatória, especialmente em cenários desafiadores como a obstetrícia. A presença de um perfusionista qualificado na equipe cirúrgica é fundamental para garantir a segurança e a eficácia deste procedimento, oferecendo múltiplos benefícios para o paciente e contribuindo para melhores desfechos cirúrgicos.

 

Referências:

Dr. Jeffchander / Biomédico Perfusionista, Conselheiro do Conselho Federal de Biomedicina, ECMO Especialista e CEO da Faculdade Asgard e Ceacecmo – www.ceacteam.com.br

Mayo Clinic – https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/placenta-accreta

 

Leia mais

A Essência do Trabalho da Equipe Multidisciplinar na Cirurgia Cardíaca

O Centro Cirúrgico é um local que envolve ações que vão da mais simples à mais complexa. Com o avanço da tecnologia, o profissional que atuar nesse setor deve ter treinamentos específicos, ser capaz de atuar em equipe multidisciplinar e estar em constante aperfeiçoamento.

Na imagem abaixo, o coração humano, metaforicamente, representa a essência da empatia e a conexão entre os profissionais envolvidos na cirurgia.

Imagem: Coração & Perfusão

Assim como as peças de Lego se encaixam para criar algo maior, uma equipe multidisciplinar trabalhando juntos, formam um time unido, onde a força das relações impulsiona o sucesso de qualquer trabalho.

Durante as cirurgias cardíacas, a empatia e a conexão entre os membros da equipe médica desempenham um importante papel. A sensibilidade com as emoções e necessidades dos colegas cria um ambiente de confiança e cooperação, para lidar com os desafios e imprevistos que podem surgir durante o procedimento.

Além disso, a comunicação eficaz e o apoio mútuo promovem um ótimo trabalho em equipe, resultando em melhores resultados para o paciente. A empatia não apenas fortalece os laços entre os profissionais de saúde, mas também melhora a qualidade do cuidado prestado, garantindo uma abordagem mais humanizada e compassiva no tratamento de problemas cardíacos.

E quem são os profissionais que atuam durante uma cirurgia cardíaca?

Após uma avaliação do cardiologista e do cirurgião cardiovascular, o paciente é recebido no centro cirúrgico por uma equipe de enfermagem. Entre suas principais incumbências destaca-se a assistência direta ao paciente.

O cirurgião cardiovascular comanda a cirurgia, durante a qual gerencia todas as etapas do procedimento e executa as correções que o coração necessita, contando com o suporte de médico assistente. Muitos bisturis, tesouras e fios são necessários, assim, outra figura importante que surge é a da instrumentadora, que mantém todos os materiais limpos e prontos para que o cirurgião e seu assistente possam utilizá-los.

O técnico de enfermagem tem a função de pegar os materiais e entregá-los sem contaminação para uso da equipe no ambiente estéril da cirurgia.

O anestesista, garante a ausência de dor durante o procedimento e monitora as funções vitais do paciente, proporcionando liberdade à equipe médica para realizar o trabalho com segurança e tranquilidade.

Em algumas cirurgias cardíacas, é necessário o auxílio da máquina de circulação extracorpórea (CEC), que substitui as funções do coração e pulmões durante a cirurgia e também permite uma boa visualização do campo cirúrgico, onde o cirurgião consegue trabalhar com mais segurança. O perfusionista é o profissional que conduz a CEC e é responsável pela manutenção das funções cardiorrespiratórias, equilíbrio bioquímico, hematológico e hidroeletrolítico do paciente. O profissional responsável pela máquina de autotransfusão intraoperatória – Cell Saver, geralmente o perfusionista ou o profissional especializado do banco de sangue.

O Cell Saver é um técnica utilizada em cirurgias para recuperar o sangue perdido no campo operatório. Ele aspira, filtra e processa esse sangue, removendo resíduos e concentrando os glóbulos vermelhos para reinfusão no paciente. Isso, ajuda a reduzir a necessidade de transfusões de sangue de doadores, evitando riscos de reações adversas e infecções, além de preservar os recursos do banco de sangue. O seu uso é especialmente importante em procedimentos com grande perda sanguínea, contribuindo para uma abordagem mais segura e eficiente.

O pós-operatório da cirurgia cardíaca

No pós-operatório de cirurgia cardíaca, o trabalho da equipe multidisciplinar é necessário para garantir uma recuperação segura e eficaz do paciente. Essa equipe inclui médicos intensivistas, que monitoram funções necessárias e ajustam condutas terapêuticas; enfermeiros, responsáveis ​​pelo cuidado direto ao paciente e administração de medicamentos; técnicos de enfermagem, que auxiliam na monitorização, higiene, conforto e administração de medicamentos sob supervisão do enfermeiro; fisioterapeutas, que atuam na reabilitação respiratória e motora; perfusionistas, que acompanham possíveis ajustes relacionados ao suporte circulatório, como ECMO; nutricionistas, que avaliam e ajustam a dieta conforme as necessidades metabólicas; psicólogos, que oferecem suporte emocional ao paciente e familiares; e farmacêuticas, que otimizam o uso de medicamentos. Essa integração profissional promove um cuidado abrangente e centrado no paciente.

Direção clínica e serviços especializados

A direção clínica do hospital é responsável pela supervisão e gestão das atividades assistenciais, garantindo a qualidade e segurança dos cuidados prestados aos pacientes, que coordena a equipe médica e de enfermagem, implementa protocolos e diretrizes clínicas, além de garantir o cumprimento das normas regulatórias e éticas.

Os profissionais que atuam na OPME (Materiais Especiais) e na CME (Central de Material e Esterilização) desempenham funções no gerenciamento e fornecimento de materiais cirúrgicos e dispositivos médicos. Enquanto os fornecedores de materiais cirúrgicos são responsáveis ​​pelo fornecimento de equipamentos e produtos de qualidade

Serviços terceirizados 

No serviço de limpeza do hospital, profissionais terceirizados desempenham um papel importantíssimo, garantindo a higienização de um ambiente seguro e livre de contaminações, obedecendo aos protocolos especificos para preservar a segurança dos pacientes e equipe médica.

Comunicação – A base para o sucesso da cirurgia

A comunicação entre os membros da equipe multidisciplinar é um pilar essencial no processo do pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório de cirurgia cardíaca. Reuniões regulares, trocas de informações claras e o uso de ferramentas como prontuários eletrônicos, checklist, TIME OUT (prática que visa prevenir erros durante procedimentos cirúrgicos, sendo realizada antes do início da cirurgia com a participação de toda a equipe), debriefing garantem que todos estejam especificados sobre o estado clínico do paciente e as condutas a serem adotadas. Essa interação constante permite identificar complicações precoces, ajustar estratégias terapêuticas e oferecer um cuidado integrado, onde cada profissional contribui com sua expertise para um objetivo comum: a recuperação do paciente.

Com o esforço conjunto e a comunicação eficaz, uma equipe multidisciplinar desempenha um papel indispensável, garantindo qualidade e segurança no atendimento. A sinergia entre os profissionais reflete diretamente nos resultados, proporcionando ao paciente uma recuperação mais tranquila e humanizada, com todo suporte necessário.

É o comprometimento e o esforço de cada um que faz a diferença!

Fonte: Coração & Perfusão

Leia mais

Transplante Cardíaco – Cuidados e Particularidades

Como funciona cada etapa do Transplante Cardíaco?

O transplante cardíaco é um procedimento cirúrgico, que se tornou uma opção viável para pacientes com doenças cardíacas graves e irreversíveis. Ele envolve a substituição do coração doente do paciente, por um coração saudável de um doador compatível, oferecendo uma nova chance de vida para aqueles que não respondem a tratamentos convencionais.

O transplante é uma opção para pacientes que apresentam comprometimento significativo da qualidade de vida e risco de morte iminente. Embora seja uma cirurgia de alto risco, pode proporcionar uma nova chance de vida para pacientes selecionados e com acompanhamento adequado.

Pode afetar pessoas de todas as idades, mas a indicação para a cirurgia depende do estado de outros órgãos como cérebro, pulmão, fígado e rins, pois se eles estiverem comprometidos, o paciente poderá não se beneficiar do transplante.

A fila única de transplantes é regida pela Secretaria de Estado da Saúde, que leva em consideração a definição de priorização, tempo de espera, tipagem sanguínea e gravidade de cada caso.

Agora, vamos explorar as etapas mais importantes de um transplante cardíaco. Fique atento, pois cada fase é essencial para o SUCESSO da cirurgia.

O início do transplante cardíaco no Brasil

No Brasil, O doutor Euryclides de Jesus Zerbini foi o primeiro médico a realizar um transplante do coração, em 26 de Maio de 1968, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Foi o quinto cirurgião do mundo e o primeiro da América Latina e do Brasil a realizar um transplante de coração.

Funcionamento do Coração

O coração é um órgão essencial no sistema cardiovascular, responsável por bombear o sangue e garantir que o oxigênio e nutrientes cheguem a todas as células. Quando ele não funciona adequadamente, devido a condições como insuficiência cardíaca avançada, sua função é prejudicada, tornando o transplante a única alternativa para a sobrevivência de muitos pacientes.

Transplante Cardíaco

É uma cirurgia em que um coração doente é substituído por um coração saudável de um doador compatível. Essa cirurgia representa um grande avanço da medicina, oferecendo uma nova chance de vida para pessoas que enfrentam doenças cardíacas graves.

Quando o transplante é indicado?

A indicação é realizada com base detalhada nas avaliações médicas, que levam em conta a gravidade da doença, a idade, o estado de saúde e a capacidade de recuperação do paciente.

– Insuficiência cardíaca avançada: pacientes com insuficiência cardíaca avançada, quando outras terapias não são suficientes;

– Cardiomiopatia dilatada: pacientes com cardiomiopatia dilatada avançada que não respondem a terapias medicamentosas ou outros tratamentos;

– Doença coronariana avançada: indicado em casos de doença coronariana avançada, quando não há mais possibilidade de realizar nenhum tipo de intervenção cirúrgica, como a cirurgia de revascularização do miocárdio;

– Cardiopatia congênita complexa: indicado em casos de cardiopatia congênita grave sem opções de tratamento possíveis. Essa condição é caracterizada por anormalidades na estrutura ou função do coração presentes desde o nascimento;

– Doença valvar cardíaca grave: indicado em casos de doença valvar avançada, como estenose ou insuficiência valvar, onde o paciente não responde mais ao tratamento medicamentoso ou procedimentos cirúrgicos.

O preparo e as etapas da cirurgia

O processo envolve várias etapas importantes:

– Avaliação médica onde o paciente passa por exames cardiológicos, exames de sangue, testes de função pulmonar e avaliação psicológica.

– Se o paciente for considerado apto para o transplante, é colocado na lista de espera por um doador compatível. O tempo de espera pode variar de dias a tempo mais prolongado, dependendo da disponibilidade de órgãos doadores.

– Durante o período de espera, os pacientes devem manter um estilo de vida saudável, seguir rigorosamente às orientações médicas, tomar medicamentos prescritos e evitar fatores de risco.

O transplante é um procedimento de complexo e demanda o acompanhamento de toda equipe multidisciplinar altamente capacitada. O sucesso do procedimento depende da seleção cuidadosa do paciente, da compatibilidade do doador e da colaboração durante todo o processo de recuperação.

Aqui estão as etapas do procedimento de transplante de coração:

1 – Preparação pré-operatória:

O paciente é avaliado para garantir as condições adequadas para a cirurgia. São realizados exames finais e ajustes nos medicamentos, incluindo a administração de imunossupressores para prevenir a rejeição do órgão após o transplante.

2 – Recebimento do órgão:

Quando um coração compatível é encontrado, o paciente é informado e preparado para a cirurgia. O coração do doador é transportado até o centro cirúrgico, respeitando as condições ideais de conservação.

3 – Tempo cirúrgico:

Durante a cirurgia, o coração doente é removido e o coração do doador é colocado no lugar.

– Cirurgia de remoção do coração doente

No dia da cirurgia, o paciente é anestesiado e conectado a uma máquina de circulação extracorpórea (coração-pulmão artificial) para manter o fluxo sanguíneo durante a cirurgia. O coração doente é removido, deixando intactos os grandes vasos sanguíneos e as câmaras superiores do coração.

– Implante do novo coração

O coração do doador é preparado, resfriado e transportado até o local do paciente. O novo coração é conectado aos grandes vasos sanguíneos e ao átrio do paciente, utilizando pontos cirúrgicos e técnicas de sutura avançadas.

– Restauração da circulação

Após o implante do novo coração, os vasos sanguíneos são reconectados, e o coração é posicionado adequadamente. A máquina de circulação extracorpórea (CEC) é gradualmente desligada, e o novo coração começa a bater por conta própria.

4 – Monitoramento pós-operatório imediato:

Após a cirurgia, o paciente é transferido para a UTI com monitoramento intensivo dos sinais vitais, função do coração, e possíveis complicações, como rejeição, infecção ou sangramentos.

5 – Recuperação e acompanhamento contínuo:

O paciente começa a recuperação no hospital. Durante todo período a equipe acompanha de perto a função do coração transplantado, ajustando medicações e realizando exames periódicos para garantir o bom funcionamento do órgão.

6 – Alta hospitalar e reabilitação:

Após a estabilização e recuperação inicial, o paciente é liberado para casa, com orientações sobre cuidados pós-operatórios. A reabilitação inclui acompanhamento médico, adesão a medicamentos imunossupressores e apoio psicológico para adaptação à nova realidade de vida.

Todas essas etapas garantem que o transplante seja realizado de forma segura e eficaz, com o objetivo de proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente.

Como é o pós-operatório da cirurgia?

O período pós-operatório é um estágio crítico na jornada do paciente, envolvendo:

– Monitoramento intensivo;

– Medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição do órgão transplantado e reduzir a resposta do sistema imunológico, minimizando risco de infecções;

– Reabilitação física e psicológica;

– Acompanhamento contínuo com o médico realizando exames e controlando as medicações.

Os maiores desafios

Mesmo com os avanços da medicina, os desafios persistem. A escassez de doadores compatíveis, a falta de informação sobre doação de órgãos, a complexidade dos procedimentos cirúrgicos e a necessidade de medicamentos imunossupressores de longo prazo são considerações que requerem constante atenção e pesquisa.

Apesar das limitações, o transplante de coração continua a oferecer melhorias significativas na qualidade de vida e na saúde dos pacientes.

Equipe Multidisciplinar

Uma equipe multidisciplinar desempenha um papel fundamental no acompanhamento do transplante cardíaco, garantindo que o processo seja seguro e eficaz. Composta por médicos, enfermeiros, perfusionistas, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e outros profissionais de saúde, a equipe atua em todas as fases do transplante, desde a avaliação inicial do paciente até o pós-operatório.

Cada membro contribui com sua expertise para monitorar o paciente; realizar o procedimento cirúrgico; ajustar tratamentos; oferecer suporte emocional e garantir a reabilitação física e psicológica. A colaboração entre esses profissionais é fundamental para melhorar as chances de sucesso do transplante e proporcionar uma recuperação mais completa e saudável para o paciente.

Saiba mais: https://www.drfernandofigueira.com.br/transplante-cardiaco

Referências

  • Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos – https://site.abto.org.br/transplante-de-coracao
  • Dr. Fernando Figueira – Cirurgião Cardiovascular – https://www.drfernandofigueira.com.br/
  • https://veja.abril.com.br/saude/ha-50-anos-acontecia-o-primeiro-transplante-de-coracao-do-brasil

Fonte: Cibele Sperone – Coração & Perfusão

 

Leia mais

Autotransfusão Intraoperatória na Cirurgia Cardíaca

Como a Autotransfusão Intraoperatória melhora a qualidade do sangue e reduz riscos durante o procedimento?

A cirurgia cardíaca é um dos procedimentos com maior risco de sangramento e quando se torna significativo, a principal consequência é a redução na oferta de oxigênio aos tecidos, devido à menor quantidade de hemácias circulantes, levando à necessidade de transfusões sanguíneas em muitos casos. Contudo, esta prática enfrenta desafios, como a escassez de hemoderivados devido à alta demanda em diversas áreas da medicina e ao número reduzido de doadores. Além disso, as transfusões podem acarretar complicações pós-operatórias e nem sempre são aceitas pelos pacientes, seja por questões de saúde, religiosas ou pessoais.

A Autotransfusão Intraoperatória surge como uma alternativa valiosa para a equipe cirúrgica, dependendo da necessidade do uso de hemocomponentes e neste texto, abordaremos o processo específico da autotransfusão nas cirurgias cardíacas.

Autotransfusação Intraoperatória – Cell Saver

A utilização de uma técnica denominada Cell Saver durante a cirurgia cardíaca, permite que o sangue perdido no campo cirúrgico seja aspirado, lavado e reinfundido no paciente, podendo recuperar em até 90% das hemácias perdidas durante a cirurgia. Uma técnica segura e eficaz, que reduz a utilização de hemoderivados, diminuindo as complicações pós-operatórias e reduzindo o tempo de internação e de infecções associadas. Em geral o uso do Cell Saver proporciona uma boa relação custo/benefício em cirurgias com perda mínima de sangue e que não possua contra-indicações para uso dessa técnica.

Concentrado de Hemácias

O concentrado de hemácias (CH) é obtido através da centrifugação de uma bolsa de sangue total. A densidade dos elementos do sangue determina a separação em três fases: plasma, camada leucoplaquetária e hemácias.

 

Representação de bolsa de sangue centrifugado, ilustrando as camadas de separação dos elementos sanguíneos.

 

A partir disso, a porção das hemácias é separada e recebe uma solução de preservação, resultando em uma bolsa de CH com hematócrito entre 50 a 70% e sob refrigeração, essa bolsa tem validade para transfusão de até 42 dias.

Com o passar do tempo, o baixo metabolismo das hemácias e dos poucos leucócitos da bolsa aumentam a concentração de ácido lático, produto do metabolismo anaeróbio. O pH da solução se torna mais ácido e tem a concentração de potássio aumentada, devido à ruptura das hemácias.

Como funciona o princípio da Autotransfusão?

O processo consiste em quatro etapas:
1 – Aspiração do sangramento, juntamente com solução anticoagulante (soro fisiológico e heparina), para um reservatório
2 – Centrifugação do volume aspirado para separação dos elementos sanguíneos – O plasma e a camada leucoplaquetária são descartados, juntamente com a heparina adicionada
3 – Lavagem das hemácias com soro fisiológico
4 – Recuperação das hemácias em bolsa de reinfusão, com hematócrito entre 50 e 70%.

 

Representação dos componentes utilizados na técnica de recuperação de autotransfusão intraoperatória.

 

O sangue do campo é aspirado pela máquina, armazenado, filtrado e centrifugado para concentrar as hemácias e separá-las dos demais componentes. As hemácias são lavadas com uma solução salina removendo os produtos endógenos e os produtos introduzidos no campo cirúrgico. Com isso são removidos restos de fibrina circulante, medicamentos dissolvidos no sangue, microagregados, hemoglobina livre, fatores pró-coagulantes e heparina (usada no processo de aspiração do sangue do campo cirúrgico). Assim, as hemácias lavadas são suspensas em solução salina e são encaminhadas para uma bolsa de reinfusão, prontas para serem transfundidas no paciente.

A heparina inicialmente é adicionada ao volume aspirado para evitar a coagulação do sangue na linha de aspiração e no reservatório de coleta. Após a centrifugação, a heparina se concentra na camada plasmática e é descartada.

Quando é indicado o uso da Autotransfusão?

A escolha quanto ao uso de sangue homólogo ou pelo uso do Cell Saver muitas vezes é analisada pelo custo-benefício. Um guideline da European Society of Anaesthesiology (Kozek-langenecker, et al., 2017) demonstrou que o uso desses equipamentos pode ser mais econômico em determinados pacientes, principalmente em casos de reoperação, em cirurgia de alta complexidade como por exemplo aneurisma de aorta, em pacientes com distúrbio de coagulação ou em pacientes pediátricos.

São indicados em procedimentos cirúrgicos com grande potencial de sangramento, por decisão clínica do cirurgião e/ou anestesista ou em procedimentos no qual pode ser necessário o uso de 2 ou mais unidades de hemocomponentes. A AABB (American Association of Blood Banks) recomenda o uso em casos em que a perda estimada possa chegar a 15 – 20% da volemia do paciente.

Além disso, pode ser utilizado nas seguintes situações:
– Pacientes que apresentam anemia ou fatores de risco aumentados para sangramento
– Pacientes com grupo sanguíneo raro ou sensibilizados por politransfusões anteriores
– Pacientes Testemunhas de Jeová
– Indicações cirúrgicas, como cirurgias Cardiovasculares, Ortopédica, Geral e Plástica
– Em casos de reoperações
– Neurocirurgia: aneurismas basilares
– Transplantes de fígado, rins, coração

Recentemente, (Novembro de 2024) em uma intervenção pioneira na cidade de Goiânia, a equipe do Hospital Mater Dei Goiânia conduziu um parto de alta complexidade, que envolveu um time multidisciplinar, para atender uma paciente diagnosticada com acretismo placentário – condição em que a placenta se adere firmemente ao útero, podendo causar hemorragias fatais durante o parto. 

https://cliqueabc.com.br/hospital-mater-dei-goiania-realiza-parto-de-alta-complexidade-com-tecnologia-de-ponta/

Dentre as contraindicações ao uso de recuperadores de sangue intraoperatório estão os procedimentos de pacientes contaminados e, principalmente, em cirurgias oncológicas.

Além do uso no intraoperatório, também pode ser usado ​​para lavar bolsas de sangue, melhorando sua qualidade. O processo remove hemácias danificadas, hemoglobina livre, plasma residual, potássio e proteínas livres. e dependendo do equipamento, é possível reduzir de 30 a 70% dos glóbulos brancos. Essa técnica pode ser aplicada na preparação do perfusato sanguíneo utilizado na CEC durante as cirurgias, garantindo ao paciente um sangue mais fisiológico e de melhor qualidade.

Tópicos mais questionados sobre o uso do Cell Saver / Fonte: Cardiosurgery Post

1 – O sangue recuperado contém heparina?

NÃO. A heparina é removida durante a lavagem, pois se concentra na mesma fase do plasma após a centrifugação.

2 – Se não tem heparina mesmo, porque o teste de coagulação ativado (TCA) dá resultado incoagulável?

Isso ocorre porque os fatores de coagulação e as plaquetas não estão presentes no sangue recuperado. Sem isso, o sangue não coagula; e não pela presença da heparina.

3 – Quando reinfundo o sangue recuperado, observo piora na coagulação do paciente. Porque?

Isso pode ocorrer em casos de grande volume processado. Apenas as hemácias são reinfundidas, uma vez que plaquetas e fatores de coagulação são descartados. A piora na coagulação do paciente pode ser explicada por uma plaquetopenia dilucional.

4 – O sangue recuperado deve ser reinfundido no paciente em quanto tempo?

A bolsa de reinfusão deve ser mantida em temperatura ambiente e ser reinfundida no paciente em até 4 horas. Recomenda-se fazer a reinfusão ainda em sala cirúrgica, a fim de evitar o risco de transfusão em outro paciente, mas se for realizada na UTI, a bolsa deve estar identificada com etiqueta do paciente e com a hora que o processo foi realizado.

Referências

Ministério da Saúde – Guia para o uso de hemocomponentes: Editora do Ministério da Saúde. 

Dossiê Autotransfusão Intraoperatória – Politec Saúde / Sistema de Autotransfusão XTRA®️

www.cardiosurgerypost.com/single-post/autotransfusao-intra-operatoria 

https://www.abatransfusao.org/equipamentos

 

Coração & Perfusão

Leia mais
Comunicação Interventricular (CIV)

Comunicação Interventricular (CIV): Causas, Sintomas, Tratamento e Diagnóstico

Cardiopatias Congênitas – Comunicação Interventricular (CIV). Uma das doenças cardíacas mais frequentes, acometendo de 5 a 50 / 1.000 bebês, sendo mais prevalente no sexo feminino.

A Comunicação Interventricular, também conhecida como CIV, é uma alteração na anatomia do coração que surge enquanto o feto ainda está em formação. É uma das cardiopatias congênitas mais frequentes, que se caracteriza pela presença de um ou mais orifícios no septo interventricular, permitindo a passagem de sangue do ventrículo com maior pressão para o ventrículo com menor pressão, geralmente da esquerda para a direita. 

No coração normal, o sangue do lado esquerdo é bombeado para o corpo e do lado direito para os pulmões. Quando existe essa comunicação, uma quantidade de sangue passa do ventrículo esquerdo (maior pressão) para o ventrículo direito. Este sangue já oxigenado, vai novamente para os pulmões e retorna para o lado esquerdo, sobrecarregando o coração. Nos pulmões, a sobrecarga aumenta a pressão podendo lesionar as paredes das artérias pulmonares.

O volume de sangue recebido no ventrículo direito está diretamente relacionado ao tamanho da comunicação. A sobrecarga de volume sanguíneo acarretará na piora principalmente dos sintomas respiratórios e na dificuldade em ganhar peso. Tudo isso devido às sequelas pulmonares e cardíacas causadas pelo excesso de sangue em locais que não estão preparados para essa situação. A longo prazo, os pulmões podem sofrer sequelas levando a uma doença chamada de Hipertensão Pulmonar, caso a CIV não seja fechada em tempo hábil.

CLASSIFICAÇÃO

A CIV pode ser classificada devido a diferentes critérios, como característica, localização anatômica e presença de outras anomalias cardíacas associadas. Entre as mais comuns, estão:

1. Classificação com base no tamanho:

    • Pequena: diâmetro de até 4 milímetros.
    • Média: diâmetro entre 5 e 8 milímetros.
    • Grande: diâmetro maior que 8 milímetros.

2. Classificação com base na localização:

    • CIV Muscular: localizada na porção muscular do septo interventricular.
    • CIV Perimembranosa: localizada na porção membranosa do septo interventricular, próxima à válvula tricúspide.
    • CIV Subarterial: localizada abaixo das valvas aórtica e pulmonar.

Localização anatômica em relação à crista supraventricular – estrutura muscular que separa a porção principal do ventrículo direito da porção infundibular: quando se encontram acima da crista são chamadas infundibulares e abaixo infracristais e são localizadas nas regiões do septo membranoso ou na porção muscular do septo.

3. Classificação com base na relação com outras anomalias cardíacas:

    • CIV Isolada: defeito presente sem associação com outras anomalias cardíacas.
    • CIV Complexa: defeito associado a outras malformações cardíacas, como Transposição das Grandes Artérias (TGA), Tetralogia de Fallot (T4F), Estenose Pulmonar, Coarctação de Aorta (CoAo).

Essas classificações auxiliam na compreensão da gravidade da CIV e na determinação no tratamento mais adequado. 

 

Tipos de CIV - Tamanho e Localização: Dados Importantes para Diagnóstico e Tratamento Precoce. 
Imagem: Coração & Perfusão

 

TAMANHO E LOCALIZAÇÃO

As CIVs variam em tamanho e localização. Uma CIV de tamanho pequeno pode evoluir com redução do seu diâmetro e fechamento espontâneo nos primeiros 2 anos de vida da criança, mas na maioria dos casos o tratamento cirúrgico é necessário, sendo indicado no tempo certo.

CIV PÓS INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM)

A CIV que ocorre após o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é rara, mas justifica alta mortalidade quando não é diagnosticada e tratada adequadamente. Ocorre devido a uma ruptura do septo interventricular pós-IAM associado muitas vezes a instabilidade hemodinâmica do paciente.

SINTOMAS

A presença de outras alterações cardíacas também podem influenciar nos sintomas. Uma comunicação pequena, a criança pode apresentar um sopro cardíaco exuberante, sem outras manifestações clínicas. 

Nos defeitos amplos, o sopro é mais baixo mas a criança apresenta sintomas e sinais exuberantes. Os mais comuns são baixo peso, cansaço para mamar, sudorese e extremidades mais frias. A recorrência de quadros respiratórios também pode estar relacionada com a presença da CIV.

Comunicações amplas que não foram tratadas podem gerar cianose e falta de ar em atividades. As CIVs moderadas ou grandes, causam danos ao desenvolvimento do paciente, levando ao aparecimento de sinais de insuficiência cardíaca (ICC) já nos primeiros três meses de vida.

DIAGNÓSTICO

O sopro cardíaco é o achado mais frequente nos exames clínicos. Na CIV, o turbilhonamento do sangue entre os ventrículos provoca um sopro  que pode ser ouvido durante toda a sístole (fase de contração dos ventrículos). A intensidade do sopro pode variar, dependendo do tamanho e da gravidade da CIV, e geralmente é localizada na região do ápice do coração.

O exame mais utilizado para diagnóstico é o ecocardiograma transtorácico, que fornece imagens do coração, permitindo uma análise precisa do tamanho, localização e características da doença. Com as informações obtidas, é possível fazer um diagnóstico preciso da condição, determinar a gravidade do defeito e planejar o tratamento adequado. Outros exames para confirmar o diagnóstico são o eletrocardiograma e a radiografia de tórax.

Em alguns casos, o diagnóstico pode ser feito antes do nascimento, através do ecocardiograma fetal, permitindo que o tratamento comece imediatamente após o nascimento

TRATAMENTO

O tratamento pode variar de acordo pelo tamanho e gravidade do defeito, presença de sintomas, idade e outras condições associadas. 

Observação e monitorização: casos de CIV pequena e assintomática, envolvendo consultas regulares para avaliar o tamanho e acompanhar a presença de sintomas. 

Tratamento com medicamentos: em alguns casos, o medicamentos são utilizados para controlar os sintomas associados, garantindo melhor qualidade de vida. 

Cirurgia: casos de CIV grande, persistente, sintomática ou que não se fecha espontaneamente.

Cateterismo cardíaco: em alguns casos, pode ser possível realizar o fechamento da CIV por cateterismo cardíaco. 

O tratamento da CIV é individualizado e depende das características específicas de cada paciente. É importante que o tratamento seja acompanhado por um cardiologista pediátrico, que avaliará a gravidade da doença e recomendará a melhor opção de tratamento para cada caso. 

 

Texto: Coração & Perfusão / Dr. Juliano Penha – Cirurgião Cardiovascular Pediátrico – CRM-SP 127.414 | RQE 51.118

 

Leia mais

Tetralogia de Fallot: O Que Você Precisa Saber Sobre Essa Cardiopatia Congênita

Cardiopatias Congênitas – Tetralogia de Fallot (T4F)

A Tetralogia de Fallot (T4F) é uma cardiopatia congênita cianótica caracterizada por baixo fluxo de sangue que vai do coração (ventrículo direito) para os pulmões e representa cerca de 10% de todas as cardiopatias congênitas. Devido a essa condição, o paciente apresenta cianose, com tons de pele e mucosas azuladas, pois a quantidade de sangue que chega aos pulmões é menor do que o normal.

Essa cardiopatia inclui quatro defeitos cardíacos principais: 

➡ Estenose Pulmonar: Um estreitamento na via de saída da válvula pulmonar, que bloqueia o fluxo de sangue do ventrículo direito para a artéria pulmonar.

➡ Hipertrofia do Ventrículo Direito: Devido ao esforço extra causado pela pressão elevada, o músculo do ventrículo direito se torna mais espesso.

➡ Comunicação Interventricular (CIV): Um defeito que permite a passagem de sangue entre os ventrículos direito e esquerdo.

➡ Dextroposição da Aorta: A aorta se desloca para o lado direito do coração, recebendo sangue dos dois ventrículos.(“cavalgamento” da aorta sobre o septo interventricular)

O estreitamento na saída do ventrículo direito limita o fluxo de sangue para os pulmões, o que faz com que o sangue pobre em oxigênio passe do ventrículo direito para o esquerdo através do defeito do septo, indo diretamente para a aorta. O grau de cianose depende da quantidade de sangue que chega aos pulmões, variando de leve a grave.

Em casos mais severos, até que a cirurgia possa ser realizada, o bebê depende do canal arterial para sobreviver. O canal arterial é um vaso sanguíneo presente no feto que conecta a artéria pulmonar à aorta. Após o nascimento, ele normalmente se fecha nos primeiros dias de vida. No entanto, se permanecer aberto, um pouco de sangue da aorta pode retornar aos pulmões, ajudando a oxigenar o sangue.

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito durante a gestação, através do ecocardiograma fetal, após a 18a semana de gestação. Após o nascimento o ecocardiograma transtorácico define com mais precisão os aspectos anatômicos. No entanto, caso exista alguma dúvida no diagnóstico ou suspeita de alguma alteração coronariana, a angiotomografia (angioCT) deve ser realizada.

Tratamento

O tratamento pode ser clínico, com a função de manter o paciente estável até a cirurgia, cirúrgico ou cateterismo, a depender da gravidade clínica e anatomia da cardiopatia.

A cirurgia pode ser dividida em etapas:

Para pacientes com idade menor do que três meses, que estejam apresentando quedas importantes de saturação de oxigênio e possuam vasos pulmonares pequenos, a cirurgia paliativa de Blalock-Thomas-Taussig dever ser realizada. O procedimento consiste na realização da conexão de um tubo entre a artéria subclávia e a artéria pulmonar, com o objetivo de garantir a chegada de sangue aos pulmões, fornecendo uma saturação de oxigênio segura para a criança até a realização da cirurgia definitiva.

Em pacientes com idade acima de três meses a correção anatômica já pode ser realizada com mais segurança, mas se o desenvolvimento do bebê estiver ocorrendo de forma segura, o ideal é realizar a cirurgia próximo do sexto mês de vida.

Correção cirúrgica

A correção anatômica consiste no fechamento da CIV, retirada da musculatura do ventrículo direito que está impedindo a chegada de sangue aos pulmões e plastia ou ampliação da valva pulmonar.

O prognóstico está relacionado aos aspectos anatômicos da valva pulmonar e ao resultado cirúrgico. Quando a anatomia da valva pulmonar é boa, e o grau de lesão residual for pequeno, o paciente tem boa qualidade de vida e pode não necessitar de outra abordagem cirúrgica no futuro. Mas se a anatomia for desfavorável, com necessidade de ampliação do anel/valva pulmonar, a insuficiência pulmonar pode ser importante. O fato de a valva pulmonar não ter uma boa função irá levar a necessidade de futuras cirurgias para troca dessa valva.

É importantíssimo o acompanhamento com especialista para que o tratamento seja realizado com segurança e no tempo certo de vida do paciente.

Quer saber mais sobre Tetralogia de Fallot?

Leia mais

Defeito do Septo Atrioventricular (DSAV): Entenda as Causas e Tratamentos da Condição Cardíaca

Cardiopatias Congênitas – Defeito do Septo Atrioventricular (DSAV)

O Defeito do Septo Atrioventricular (DSAV) é uma alteração cardíaca congênita relativamente frequente, com uma incidência de aproximadamente 50 a cada 100.000 nascidos vivos, sendo muito associada à Síndrome de Down (40 a 50%).

Faz parte das cardiopatias congênitas acianóticas com hiperfluxo pulmonar, o que significa que não causa cianose (pele azulada), mas aumenta o fluxo sanguíneo nos pulmões. Essa condição ocorre devido à ausência ou deficiência das estruturas que formam o septo atrioventricular, a parede que separa as câmaras superiores (átrios) das inferiores (ventrículos) do coração.

O coração normal é dividido em quatro câmaras, sendo duas do lado direito (átrio e ventrículo direitos) e duas do lado esquerdo (átrio e ventrículo esquerdos). O lado direito é responsável pelo bombeamento do sangue venoso (não oxigenado) que retorna do corpo para os pulmões, através da artéria pulmonar. Já o lado esquerdo recebe o sangue que retorna do pulmão (já oxigenado) e é responsável por seu bombeamento ao restante do corpo, através da artéria aorta. Cada ventrículo possui uma valva: valva tricúspide com o ventrículo direito e valva mitral com o ventrículo esquerdo. O habitual é que não exista comunicação entre os dois lados do coração, não permitindo mistura de sangue entre eles.

Em um coração normal, as válvulas atrioventriculares direita (tricúspide) e esquerda (mitral) estão em planos diferentes. No DSAV, essas válvulas estão no mesmo plano, formando um único anel.

O DSAV pode ser classificado em duas formas principais:

DSAV Total (DSAVT) – Inclui uma Comunicação Interatrial (CIA) e uma Comunicação Interventricular (CIV), permitindo a passagem de sangue entre os átrios e entre os ventrículos.

DSAV Parcial – Apresenta apenas a CIA, sem a presença de CIV.

O único tratamento eficaz para o DSAV é a cirurgia, que geralmente é realizada entre 6 a 12 meses de idade em casos mais graves. Em casos mais leves, a cirurgia pode ser feita entre 3 e 4 anos de idade. A intervenção precoce é fundamental para evitar complicações pulmonares graves.

Texto: Coração & Perfusão / Parceria: Dr. Juliano Penha – Cirurgião Cardiovascular Pediátrico – CRM-SP 127.414 | RQE 51.118

Leia mais