A Essência do Trabalho da Equipe Multidisciplinar na Cirurgia Cardíaca

O Centro Cirúrgico é um local que envolve ações que vão da mais simples à mais complexa. Com o avanço da tecnologia, o profissional que atuar nesse setor deve ter treinamentos específicos, ser capaz de atuar em equipe multidisciplinar e estar em constante aperfeiçoamento.

Na imagem abaixo, o coração humano, metaforicamente, representa a essência da empatia e a conexão entre os profissionais envolvidos na cirurgia.

Imagem: Coração & Perfusão

Assim como as peças de Lego se encaixam para criar algo maior, uma equipe multidisciplinar trabalhando juntos, formam um time unido, onde a força das relações impulsiona o sucesso de qualquer trabalho.

Durante as cirurgias cardíacas, a empatia e a conexão entre os membros da equipe médica desempenham um importante papel. A sensibilidade com as emoções e necessidades dos colegas cria um ambiente de confiança e cooperação, para lidar com os desafios e imprevistos que podem surgir durante o procedimento.

Além disso, a comunicação eficaz e o apoio mútuo promovem um ótimo trabalho em equipe, resultando em melhores resultados para o paciente. A empatia não apenas fortalece os laços entre os profissionais de saúde, mas também melhora a qualidade do cuidado prestado, garantindo uma abordagem mais humanizada e compassiva no tratamento de problemas cardíacos.

E quem são os profissionais que atuam durante uma cirurgia cardíaca?

Após uma avaliação do cardiologista e do cirurgião cardiovascular, o paciente é recebido no centro cirúrgico por uma equipe de enfermagem. Entre suas principais incumbências destaca-se a assistência direta ao paciente.

O cirurgião cardiovascular comanda a cirurgia, durante a qual gerencia todas as etapas do procedimento e executa as correções que o coração necessita, contando com o suporte de médico assistente. Muitos bisturis, tesouras e fios são necessários, assim, outra figura importante que surge é a da instrumentadora, que mantém todos os materiais limpos e prontos para que o cirurgião e seu assistente possam utilizá-los.

O técnico de enfermagem tem a função de pegar os materiais e entregá-los sem contaminação para uso da equipe no ambiente estéril da cirurgia.

O anestesista, garante a ausência de dor durante o procedimento e monitora as funções vitais do paciente, proporcionando liberdade à equipe médica para realizar o trabalho com segurança e tranquilidade.

Em algumas cirurgias cardíacas, é necessário o auxílio da máquina de circulação extracorpórea (CEC), que substitui as funções do coração e pulmões durante a cirurgia e também permite uma boa visualização do campo cirúrgico, onde o cirurgião consegue trabalhar com mais segurança. O perfusionista é o profissional que conduz a CEC e é responsável pela manutenção das funções cardiorrespiratórias, equilíbrio bioquímico, hematológico e hidroeletrolítico do paciente. O profissional responsável pela máquina de autotransfusão intraoperatória – Cell Saver, geralmente o perfusionista ou o profissional especializado do banco de sangue.

O Cell Saver é um técnica utilizada em cirurgias para recuperar o sangue perdido no campo operatório. Ele aspira, filtra e processa esse sangue, removendo resíduos e concentrando os glóbulos vermelhos para reinfusão no paciente. Isso, ajuda a reduzir a necessidade de transfusões de sangue de doadores, evitando riscos de reações adversas e infecções, além de preservar os recursos do banco de sangue. O seu uso é especialmente importante em procedimentos com grande perda sanguínea, contribuindo para uma abordagem mais segura e eficiente.

O pós-operatório da cirurgia cardíaca

No pós-operatório de cirurgia cardíaca, o trabalho da equipe multidisciplinar é necessário para garantir uma recuperação segura e eficaz do paciente. Essa equipe inclui médicos intensivistas, que monitoram funções necessárias e ajustam condutas terapêuticas; enfermeiros, responsáveis ​​pelo cuidado direto ao paciente e administração de medicamentos; técnicos de enfermagem, que auxiliam na monitorização, higiene, conforto e administração de medicamentos sob supervisão do enfermeiro; fisioterapeutas, que atuam na reabilitação respiratória e motora; perfusionistas, que acompanham possíveis ajustes relacionados ao suporte circulatório, como ECMO; nutricionistas, que avaliam e ajustam a dieta conforme as necessidades metabólicas; psicólogos, que oferecem suporte emocional ao paciente e familiares; e farmacêuticas, que otimizam o uso de medicamentos. Essa integração profissional promove um cuidado abrangente e centrado no paciente.

Direção clínica e serviços especializados

A direção clínica do hospital é responsável pela supervisão e gestão das atividades assistenciais, garantindo a qualidade e segurança dos cuidados prestados aos pacientes, que coordena a equipe médica e de enfermagem, implementa protocolos e diretrizes clínicas, além de garantir o cumprimento das normas regulatórias e éticas.

Os profissionais que atuam na OPME (Materiais Especiais) e na CME (Central de Material e Esterilização) desempenham funções no gerenciamento e fornecimento de materiais cirúrgicos e dispositivos médicos. Enquanto os fornecedores de materiais cirúrgicos são responsáveis ​​pelo fornecimento de equipamentos e produtos de qualidade

Serviços terceirizados 

No serviço de limpeza do hospital, profissionais terceirizados desempenham um papel importantíssimo, garantindo a higienização de um ambiente seguro e livre de contaminações, obedecendo aos protocolos especificos para preservar a segurança dos pacientes e equipe médica.

Comunicação – A base para o sucesso da cirurgia

A comunicação entre os membros da equipe multidisciplinar é um pilar essencial no processo do pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório de cirurgia cardíaca. Reuniões regulares, trocas de informações claras e o uso de ferramentas como prontuários eletrônicos, checklist, TIME OUT (prática que visa prevenir erros durante procedimentos cirúrgicos, sendo realizada antes do início da cirurgia com a participação de toda a equipe), debriefing garantem que todos estejam especificados sobre o estado clínico do paciente e as condutas a serem adotadas. Essa interação constante permite identificar complicações precoces, ajustar estratégias terapêuticas e oferecer um cuidado integrado, onde cada profissional contribui com sua expertise para um objetivo comum: a recuperação do paciente.

Com o esforço conjunto e a comunicação eficaz, uma equipe multidisciplinar desempenha um papel indispensável, garantindo qualidade e segurança no atendimento. A sinergia entre os profissionais reflete diretamente nos resultados, proporcionando ao paciente uma recuperação mais tranquila e humanizada, com todo suporte necessário.

É o comprometimento e o esforço de cada um que faz a diferença!

Fonte: Coração & Perfusão

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Comunicação Interventricular (CIV)

Comunicação Interventricular (CIV): Causas, Sintomas, Tratamento e Diagnóstico

Cardiopatias Congênitas – Comunicação Interventricular (CIV). Uma das doenças cardíacas mais frequentes, acometendo de 5 a 50 / 1.000 bebês, sendo mais prevalente no sexo feminino.

A Comunicação Interventricular, também conhecida como CIV, é uma alteração na anatomia do coração que surge enquanto o feto ainda está em formação. É uma das cardiopatias congênitas mais frequentes, que se caracteriza pela presença de um ou mais orifícios no septo interventricular, permitindo a passagem de sangue do ventrículo com maior pressão para o ventrículo com menor pressão, geralmente da esquerda para a direita. 

No coração normal, o sangue do lado esquerdo é bombeado para o corpo e do lado direito para os pulmões. Quando existe essa comunicação, uma quantidade de sangue passa do ventrículo esquerdo (maior pressão) para o ventrículo direito. Este sangue já oxigenado, vai novamente para os pulmões e retorna para o lado esquerdo, sobrecarregando o coração. Nos pulmões, a sobrecarga aumenta a pressão podendo lesionar as paredes das artérias pulmonares.

O volume de sangue recebido no ventrículo direito está diretamente relacionado ao tamanho da comunicação. A sobrecarga de volume sanguíneo acarretará na piora principalmente dos sintomas respiratórios e na dificuldade em ganhar peso. Tudo isso devido às sequelas pulmonares e cardíacas causadas pelo excesso de sangue em locais que não estão preparados para essa situação. A longo prazo, os pulmões podem sofrer sequelas levando a uma doença chamada de Hipertensão Pulmonar, caso a CIV não seja fechada em tempo hábil.

CLASSIFICAÇÃO

A CIV pode ser classificada devido a diferentes critérios, como característica, localização anatômica e presença de outras anomalias cardíacas associadas. Entre as mais comuns, estão:

1. Classificação com base no tamanho:

    • Pequena: diâmetro de até 4 milímetros.
    • Média: diâmetro entre 5 e 8 milímetros.
    • Grande: diâmetro maior que 8 milímetros.

2. Classificação com base na localização:

    • CIV Muscular: localizada na porção muscular do septo interventricular.
    • CIV Perimembranosa: localizada na porção membranosa do septo interventricular, próxima à válvula tricúspide.
    • CIV Subarterial: localizada abaixo das valvas aórtica e pulmonar.

Localização anatômica em relação à crista supraventricular – estrutura muscular que separa a porção principal do ventrículo direito da porção infundibular: quando se encontram acima da crista são chamadas infundibulares e abaixo infracristais e são localizadas nas regiões do septo membranoso ou na porção muscular do septo.

3. Classificação com base na relação com outras anomalias cardíacas:

    • CIV Isolada: defeito presente sem associação com outras anomalias cardíacas.
    • CIV Complexa: defeito associado a outras malformações cardíacas, como Transposição das Grandes Artérias (TGA), Tetralogia de Fallot (T4F), Estenose Pulmonar, Coarctação de Aorta (CoAo).

Essas classificações auxiliam na compreensão da gravidade da CIV e na determinação no tratamento mais adequado. 

 

Tipos de CIV - Tamanho e Localização: Dados Importantes para Diagnóstico e Tratamento Precoce. 
Imagem: Coração & Perfusão

 

TAMANHO E LOCALIZAÇÃO

As CIVs variam em tamanho e localização. Uma CIV de tamanho pequeno pode evoluir com redução do seu diâmetro e fechamento espontâneo nos primeiros 2 anos de vida da criança, mas na maioria dos casos o tratamento cirúrgico é necessário, sendo indicado no tempo certo.

CIV PÓS INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM)

A CIV que ocorre após o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é rara, mas justifica alta mortalidade quando não é diagnosticada e tratada adequadamente. Ocorre devido a uma ruptura do septo interventricular pós-IAM associado muitas vezes a instabilidade hemodinâmica do paciente.

SINTOMAS

A presença de outras alterações cardíacas também podem influenciar nos sintomas. Uma comunicação pequena, a criança pode apresentar um sopro cardíaco exuberante, sem outras manifestações clínicas. 

Nos defeitos amplos, o sopro é mais baixo mas a criança apresenta sintomas e sinais exuberantes. Os mais comuns são baixo peso, cansaço para mamar, sudorese e extremidades mais frias. A recorrência de quadros respiratórios também pode estar relacionada com a presença da CIV.

Comunicações amplas que não foram tratadas podem gerar cianose e falta de ar em atividades. As CIVs moderadas ou grandes, causam danos ao desenvolvimento do paciente, levando ao aparecimento de sinais de insuficiência cardíaca (ICC) já nos primeiros três meses de vida.

DIAGNÓSTICO

O sopro cardíaco é o achado mais frequente nos exames clínicos. Na CIV, o turbilhonamento do sangue entre os ventrículos provoca um sopro  que pode ser ouvido durante toda a sístole (fase de contração dos ventrículos). A intensidade do sopro pode variar, dependendo do tamanho e da gravidade da CIV, e geralmente é localizada na região do ápice do coração.

O exame mais utilizado para diagnóstico é o ecocardiograma transtorácico, que fornece imagens do coração, permitindo uma análise precisa do tamanho, localização e características da doença. Com as informações obtidas, é possível fazer um diagnóstico preciso da condição, determinar a gravidade do defeito e planejar o tratamento adequado. Outros exames para confirmar o diagnóstico são o eletrocardiograma e a radiografia de tórax.

Em alguns casos, o diagnóstico pode ser feito antes do nascimento, através do ecocardiograma fetal, permitindo que o tratamento comece imediatamente após o nascimento

TRATAMENTO

O tratamento pode variar de acordo pelo tamanho e gravidade do defeito, presença de sintomas, idade e outras condições associadas. 

Observação e monitorização: casos de CIV pequena e assintomática, envolvendo consultas regulares para avaliar o tamanho e acompanhar a presença de sintomas. 

Tratamento com medicamentos: em alguns casos, o medicamentos são utilizados para controlar os sintomas associados, garantindo melhor qualidade de vida. 

Cirurgia: casos de CIV grande, persistente, sintomática ou que não se fecha espontaneamente.

Cateterismo cardíaco: em alguns casos, pode ser possível realizar o fechamento da CIV por cateterismo cardíaco. 

O tratamento da CIV é individualizado e depende das características específicas de cada paciente. É importante que o tratamento seja acompanhado por um cardiologista pediátrico, que avaliará a gravidade da doença e recomendará a melhor opção de tratamento para cada caso. 

 

Texto: Coração & Perfusão / Dr. Juliano Penha – Cirurgião Cardiovascular Pediátrico – CRM-SP 127.414 | RQE 51.118

 

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A Circulação Extracorpórea em Pacientes de Alto Risco

A Circulação Extracorpórea em Pacientes de Alto Risco

Quando nos referimos à circulação extracorpórea em pacientes de alto risco, estamos discutindo a utilização da técnica onde os pacientes apresentam condições médicas ou fatores de risco que tornam o procedimento cirúrgico mais desafiador.

A Circulação Extracorpórea (CEC) é utilizada em cirurgias cardíacas, quando o coração precisa estar parado temporariamente e protegido, para que o cirurgião possa realizar intervenções como reparo de válvulas, revascularização coronariana, transplante cardíaco, entre outros.

Pacientes de alto risco:

➡ Pacientes com insuficiência cardíaca grave que apresentam alto risco durante a manipulação do coração.

➡ Doenças cardiovasculares: pacientes com anatomia vascular complexa, lesões cardíacas ou condições congênitas.

➡ Idosos com condições clínicas associadas.

➡ Presença de doenças associadas, como diabetes, doença pulmonar crônica ou renal, podendo complicar o manejo perioperatório.

➡ Casos de reoperações.

Para abordar a CEC em pacientes de alto risco, a equipe cirúrgica precisa considerar cuidadosamente a estratégia da CEC e as técnicas cirúrgicas específicas, minimizando complicações e otimizando os resultados. Isso pode envolver o uso de técnicas menos invasivas, estratégias de anticoagulação, monitoramento rigoroso e a colaboração interdisciplinar entre cardiologistas, cirurgiões, perfusionistas e anestesistas, com o objetivo de melhorar a segurança e eficácia do procedimento nesses pacientes específicos.

Texto: Cibele Sperone – Coração & Perfusão

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